A vigilância tecnológica converteu-se numa actividade chave para as organizações e profissionais encarregados da gestão de projectos inovadores. No contexto actual, marcado entre outros factores pelo processo da globalização dos merados e a afloração das Tecnologias da Informação e a Comunicação (TIC), apostar pela inovação é fundamental para a sobrevivência e a gestão da informação converte-se numa tarefa básica do processo de inovação.
Internet tem contribuído de uma maneira notória ao aumento, sem precedentes, da avalanche informativa. Hoje dispomos de uma multidão de fontes dispersas e heterogéneas de informação que podemos trocar em qualquer momento a nível global. Por sua vez, os avanços da informática e as telecomunicações provêem-nos de novas ferramentas e aplicações que facilitam a tarefa de filtrar, analisar e gerir informação estratégica nos processos de inovação.
Conhecemos a experiência do Departamento de Inteligência Estratégica e Competitiva (SCI) do Instituto Tecnológico de Informática (ITI), através do Observatório Tecnológico do sector TIC, um desenvolvimento próprio cuja finalidade é a criação de um sistema de Vigilância Tecnológica e Inteligência Competitiva que sirva de suporte para a tomada de decisões estratégicas de inovação do Instituto e das empresas do sector TIC. Falamos com o director do Departamento, Daniel Sáez Domingo.
P: Como surge este projecto no seio do Instituto Tecnológico?
R: O Observatório Tecnológico do sector TIC nasce no final de 2008 como resposta a uma dupla necessidade:
Por um lado, precisávamos afianzar e sistematizar o processo de Vigilância Tecnológica na própria organização, como fase fundamental do nosso sistema de gestão da I&D, e o Observatório se apresentava como o canal mais idôneo.
Por outro lado, a posta em marcha do Observatório propôs-se como um serviço às empresas associadas e subscritas. O ITI, como centro de referência TIC, pode assim oferecer um serviço de Vigilância Tecnológica a pequenas e médias empresas que não dispõem de recursos materiais, humanos e económicos suficientes para poder levar a cabo acções de vigilância tecnológica por si mesmas, fomentando os processos inovadores nas empresas de um sector como o TIC, tão inovador e de rápida evolução e mudança.
P: Qual é a missão e os objectivos deste Observatório Tecnológico do sector TIC?
R: Desde este Observatório, temos a missão de captar e analisar as tendências e a evolução das Tecnologias da Informação e as Comunicações, os seus agentes e as estratégias de investigação e políticas nacionais e internacionais em torno delas para orientar ao Instituto e às empresas sobre novos projectos, produtos ou processos que possam constituir-se em oportunidades de I&D ou de negócio e coordenar a resposta ante estas oportunidades facilitando o cumprimento dos objectivos dos grupos e do ITI em general.
Estes objectivos se trabalham através de uma série de linhas de actividade, que são:
- Vigilância Tecnológica e informação estratégica
- Detecção de oportunidades de I&D nacionais
- Detecção de oportunidades de I&D internacional
- Inteligência Competitiva
- Formação
- Implantação e Transferência do modelo
P: Que equipa de profissionais fazem parte do Observatório?:
R: Para a criação, posta em marcha e manutenção do Observatório, o ITI aposta pela formação de uma equipa multidiciplinar adscrita ao departamento de Inteligência Estratégica e Competitiva (SCI), complementado por uma equipa técnica encarregada do desenvolvimento das ferramentas que suportam o processo.
P: Que características desta equipa multidiciplinar e técnica destacaria para recomendar a outras equipas dedicadas à vigilância tecnológica e inteligência competitiva?
R: Combinar perfis estratégicos, técnicos e versáteis procedentes de diversas disciplinas é fundamental para melhorar a capacidade de resposta e qualidade dos trabalhos realizados.
No referente aos perfis estratégicos, é importante diferenciar, ainda que não de maneira excludente, entre os técnicos de vigilância, que são pessoas encarregadas de recolher, seleccionar e difundir a informação, e as pessoas dedicadas à avaliação e análise dessa informação para a tomada de decisões. No nosso caso, a equipa está formada por Licenciados em Documentação e Engenheiros de Telecomunicação, dois perfis que se complementam à hora de dar um serviço deste tipo.
No referente aos perfis técnicos, participam especialistas em desenvolvimento de aplicações web de gestão de conteúdos que, podem seguir as tendências e detectar oportunidades que hoje em dia se desenvolvem nas plataformas abertas.
P: Quais são as áreas temáticas dentro das TIC que se abordam desde o Observatório?
R: O Observatório cobre as seguintes áreas temáticas relacionadas com a corrente de valor do sector TIC:
- Qualidade do software.
- Computação Inteligente.
- Comunicações e sensores.
- Engenharia do Software.
- Multimédia e Lazer.
- Visão Artificial.
- Segurança informática.
- Sistemas de informação geográfica.
- Sistemas distribuídos.
- Software livre.
- Tecnologias da linguagem.
Além disso, para definir as principais categorias ou áreas temáticas do Observatório, têm-se em conta os seguintes factores, derivados do conhecimento do sector TIC por parte do ITI:
- Peso específico das actividades informáticas nas empresas do sector TIC.
- Principais tendências tecnológicas actuais e críticas no futuro e evolução do sector TIC.
- Linhas de I&D do Instituto Tecnológico de Informática, como centro de referência TIC.
P: E em relação às fontes de informação como se desenvolve o processo de selecção?
R: Desde o Observatório se monitoram um grande número de fontes de informação de diferente procedência: sites, bancos de dados, boletins, etc., seleccionadas seguindo estritos critérios de qualidade para cobrir os diferentes tipos de documentos existentes: notícias, eventos, patentes, artigos científicos, normativas, legislação, etc. Uma vez filtrados e classificados os resultados de busca relevantes, pode difundir-se a informação estratégica de maneira selectiva e continua aos diferentes utentes do Observatório.
P: Que ferramentas de vigilância tecnológica e inteligência competitiva conformam o Observatório Tecnológico do sector TIC?
R: O Observatório conta com uma infra-estrutura informática específica que permite reunir, seleccionar, analisar, armazenar e difundir informação relevante de carácter científico técnico.
Esta infra-estrutura está formada por um software de vigilância tecnológica, que facilita a recopilación estruturada da informação, bem como a sua classificação e indexação, e um gestor de conteúdos, de desenvolvimento próprio, no que se publica e difunde a informação recuperada e se facilita o seu acesso e consulta mediante as seguintes ferramentas:
- Portal Site do Observatório (disponível na direcção: https://observatorio.iti.upv.es). Por defeito, na portada mostram-se os quatro tipos de recursos que têm maior carácter temporário: notícias, ofertas e demandas tecnológicas, eventos e cursos. Além disso, o portal oferece a possibilidade de mostrar a informação para uma categoria concreta, para um tipo de recurso concreto ou mediante o cruzamento de ambos (ao que denominamos categoria-tipo). A informação que se mostra no portal depende das preferencias do utente final, já que se desenhou vários níveis de acesso:
- Interno, exclusivo para o pessoal do ITI.
- Privado, para pessoal interno e empresas associadas ou subscritas ao ITI.
- Público, aberto e disponível para todos os utentes.
- Buscador. Permite a busca por texto livre, conteúdo e etiquetas alocadas à cada documento. Os resultados da busca apresentam-se agrupados por tipo de recurso.
- Sindicação de conteúdos. Implementaram-se mecanismos de sindicação RSS ao conteúdo do Observatório de maneira segmentada, contemplando a sindicação global (a todos os recursos), a sindicação a um tipo de recurso concreto e a sindicação a uma categoria específica.
- Envio de boletins electrónicos. Prévio registo e através do correio electrónico, pode-se receber periodicamente a informação mais recente dos conteúdos do Observatório. Os boletins podem ser de tipo genérico, com toda a informação de todas as categorias, ou o próprio utente pode personalizá-los indicando as categorias e o tipo de recurso do seu interesse. Enviam-se boletins semanais generais, com o resumem da informação mais relevante reunida durante a semana, e alertas de licitações, oferta e demanda, patentes e artigos científicos.
P: Além destas ferramentas, que outros serviços prestais desde o Observatório?
R: De maneira complementar, o departamento de Inteligência Estratégica e Competitiva, baseando na informação do Observatório, oferece uma série de serviços avançados de vigilância tecnológica que podem ser solicitados baixo demanda segundo as suas necessidades.
Estes são:
- Relatórios de tendências tecnológicas.
- Relatórios de tecnologias elaborados pelo ITI e resultados de projectos de I&D.
- Relatórios de tecnologias sob pedidos.
- Relatórios de referências bibliográficas.
- Consultoria em Vigilância Tecnológica: criação de Observatórios Tecnológicos sob medida.
O último relatório de tendências tecnológicas que publicamos se centrou nas TIC nas Smart Cities, ou cidades inteligentes do futuro.
P: Quem podem utilizar estas ferramentas e serviços de vigilância tecnológica que ofereceis desde o Observatório?
R: Como estamos a comentar, o Observatório tem uma dupla vertente: a interna e a externa.
A nível interno, o Observatório constitui uma ferramenta de comunicação e acesso a informação seleccionada e classificada para os pesquisadores e gestores do ITI, que podem seguir tendências, detectar oportunidades e, em definitiva, orientar as suas linhas de investigação para focar às inovações do sector e as necessidades das empresas
A nível externo, o Observatório está dirigido a qualquer empresa do sector TIC ou consumidora de TIC, que não disponha de um serviço de vigilância tecnológica próprio ou queira complementar com algum dos serviços que se oferecem desde o Observatório.
O Observatório contém secções de acesso público (Notícias, Eventos, Relatórios, etc.) e outras de maior valor acrescentado de acesso privado (Licitaciones, Ofertas e Procuras de Tecnologías e Subvenções), para o qual o utente ou empresa deve estar registado; isto é, ser associado ao ITI ou pagar uma quota anual. Também é necessário estar subscrito para a recepção periódica de Boletins Tecnológicos e/ou Alertas com as últimas novidades incorporadas ao sistema, bem como para ter acesso aos relatórios de tendências tecnológicas sectoriais elaborados pelo Instituto.
Este video é um exemplo das diversas atividades de investigação que se desenvolvem no Instituto.
P: Como se pode subscrever um utente ao Observatório?
R: O processo é muito simples, para ser um utente subscrito tem de iniciar o processo de registo solicitando uma petição através do e-mail: observatorio@iti.upv.es ou preenchendo o formulário de contacto do próprio observatório.
P: Desde o Observatório se está a começar, a estabelecer relações de cooperação com diferentes países de América Latina. Em que consistem estás primeiras actuações?
R: Iniciamos relações de cooperação com países Latino-Americanos em várias linhas. Por um lado, apoiamos a criação de Observatórios e serviços de Vigilância Tecnológica desde centros de I&D análogos ao ITI ou clústers empresariais.
Por outra parte, se estabelecem contactos para a realização de projectos de consultoria e I&D onde o Observatório tem um papel destacado como serviço de informação de referência.
Assim mesmo, o ITI realiza missões tecnológicas a países de América Latina como Brasil e Colômbia, com o objectivo de detectar oportunidades de projectos e colaboração em matéria de I&D. Fruto dessas visitas, até a data, são o estabelecimento de diferentes alianças estratégicas com organismos e centros tecnológicos destes países.
P: Pode destacar um exemplo destas iniciativas?
R: Entre estas actuações desde o ITI asesoramos ao Pólo TIC da região de Mendoza na Argentina sobre a metodologia de criação de um Observatório Tecnológico do sector TIC.
P: Para finalizar, que potencial considera que tem a vigilância tecnológica para os países Ibero-Americanos?
R: A Vigilância Tecnológica tem um grande potencial nos países Ibero-Americanos com economias emergentes onde as empresas precisam tomar posições de liderança no mercado. Esta posição competitiva só é possível se se detectam ameaças, oportunidades e novos espaços ou nichos de mercado para os que se inove de maneira eficiente, a partir de estratégias de anticipação que orientem a respeito da evolução de um sector.
Estas estratégias de anticipação só se podem realizar com processos internos de Vigilância Tecnológica nas empresas que tenham uma correcta recompilação e análise da informação.
Mais informação: ITI